Início vida de imigrante Relato de parto normal humanizado na Noruega (Lillehammer)

Relato de parto normal humanizado na Noruega (Lillehammer)

por Norueguês na Floresta

Tive o meu bebê aqui na Noruega há poucos meses e, como a experiência foi muito melhor do que eu jamais teria imaginado, deixo aqui o relato do meu parto normal humanizado, realizado no hospital de Lillehammer (Sykehuset Innlandet HF avd. Lillehammer). 

Talvez você esteja se sentindo da mesma maneira que eu me sentia antes de engravidar, que só de pensar em ter um parto normal começava a suar frio, passar mal mesmo. Na minha cabeça de brasileira, o normal seria ter cesariana, por isso, quando descobri que aqui na Noruega só se faz o parto cesárea quando há uma razão médica para tal, fiquei muito nervosa, para não dizer desesperada.  Mas não tinha muito o que fazer, o bebê tem que sair de algum jeito, né? #kkkcrying


Minha intenção com este texto é compartilhar minha experiência de parto como uma estrangeira na Noruega. Se você está na mesma situação que eu, espero que o que contarei abaixo te ajude a entender como funciona o parto no país e te tranquilize, nem que seja só um pouquinho.


Boa leitura!



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O que é um parto humanizado?


A Noruega está no topo da lista dos melhores países para se ter filho no mundo, e, aqui, o parto humanizado está mais para regra do que exceção. 

No parto humanizado, a mulher tem suas vontades ouvidas pela equipe, que são levadas em consideração sempre que possível, a não ser que a vida da mãe e/ou do bebê esteja em risco e seja necessário uma intervenção de emergência.



Uma possível indução ao parto 


Minha gravidez foi bem tranquila e estive de licença médica por pouco tempo, considerando que, no meu trabalho, passava 7,5 horas por dia em pé, andando pra lá e pra cá. O problema mais sério que tive foi o aumento da minha pressão arterial e inchaço nas últimas semanas da gestação, o que fez com que eu tivesse que ir com muito mais frequência à jordmor (enfermeira com especialização em gravidez e parto, algo entre parteira e doula) e ao fastlege (médico da família) para monitorar um possível início de pré-eclâmpsia (svangerskapsforgiftning). 

No dia antes da data prevista para o parto, com 40 semanas de gestação, fiz o último monitoramento da pressão com o meu fastlege, que decidiu que eu deveria ir no mesmo dia para o hospital de Lillehammer, já que a pressão estava muito alta e talvez fosse necessário iniciar o processo de indução do parto. Ele deve ter visto na minha cara o desespero e me tranquilizou, dizendo que eu já estava com 40 semanas e meu bebê estava pronto (só eu que não, haha). 

Na mesma hora em que ele falou isso bateu aquele arrependimento, pois pouco antes da consulta estava eu lavando não só as paredes do banheiro, como aspirando debaixo do sofá e da cama. Talvez, se eu tivesse ficado mais quieta, minha pressão não estaria tão alta e eu não precisaria ser mandada para o hospital, mas vai saber… 

Eu tinha perguntado à jordmor nas semanas anteriores se era necessário ficar de repouso por causa da pressão alta, mas ela disse que não, era só pegar leve. E eu achei que estava pegando leve, passava a maior parte do dia sentada, mas tinha uns surtos de limpeza algumas horas do dia. Mas não era tipo movendo móveis de lugar nem carregando coisas pesadas, né! Era só limpeza e “preparo do ninho” mesmo.

Assim que cheguei em casa, coloquei as últimas coisas na mala maternidade e esperei meu marido chegar. Enquanto isso, eu assistia aos vídeos da Milla do canal That Milla’s Life, uma brasileira que gravou todo o processo de indução ao parto no hospital de Tromsø, no norte da Noruega, e tentava ficar calma. Meu marido finalmente chegou e fomos em direção ao hospital de Lillehammer. 

Lembro que estava muito preocupada, nervosa e ansiosa durante toda a viagem, que geralmente dura cerca de 1h, mas pareceu uma eternidade. Fiquei a gravidez inteira me preparando mentalmente para um parto normal, que a opção de indução ao parto com possibilidade de cesária nunca nem tinha passado pela minha cabeça. E agora era o que poderia acontecer.



No hospital de Lillehammer


Hospital de Lillehammer (foto: Finn Arne Eriksrud)

Chegamos no hospital e fomos direto para a ala da maternidade (fødeavdeling), no 5° andar. Fui recebida pela jordmor de plantão, que logo já foi colocando aquela cinta na minha barriga para o exame CTG, que monitora os batimentos cardíacos e o bem-estar do bebê. Enquanto sentava lá, meu marido foi buscar um lanche pra gente na cantina do fødeavdeling. Foi muito legal ver o bebê ligado nos 220v depois que tomei um suco de laranja! 🤣

Depois, a médica de plantão fez um ultrassom e um exame de toque (o primeiro durante toda a minha gravidez), disse que estava tudo bem com o bebê e que o colo do útero estava maduro (pronto) para o parto. Ela me perguntou se poderia soltar o tampão (slimpropp em norueguês, a substância gelatinosa que fecha o colo do útero durante a gravidez), e eu autorizei. Essa substância pode sair de uma vez ou aos poucos já nas últimas semanas de gravidez, o que sinaliza que o parto está chegando. A saída do tampão não significa que a gestante automaticamente entra em trabalho de parto, pois após a saída do tampão, o parto pode ocorrer em algumas horas ou até mesmo semanas. 


Quarto onde passei a noite e corredor do fødeavdeling/Lillehammer (foto: arquivo pessoal)

Na mesma hora comecei a sentir muita cólica, algo que não sentia desde antes de engravidar, e me deram um quarto para passar a noite. Me explicaram como funciona a indução ao parto e deixaram um folheto para eu me informar ainda mais sobre o processo. 

Consegui dormir um pouco mas acordei várias vezes com cólicas muito fortes, poderia tomar paracetamol ou pedir uma bolsa de àgua quente, que foi o que escolhi e realmente ajudou. 



No dia seguinte


Acordei às 4h da manhã e fui direto na cantina preparar o meu café da manhã. Não sei como é em outros hospitais da Noruega, mas a Clínica da Mulher (Kvinneklinikk) do hospital de Lillehammer possuiu duas cantinas, uma no 5° andar (fødeavdeling, ala da maternidade) e outra no 6° andar (barselavdeling, ala do pós-parto). O bom dessas cantinas é que é  tudo no estilo self-service, tem muita variedade e você não precisa esperar nada ser servido em horários específicos, você pode comer o quanto quiser, quantas vezes por dia quiser e também a hora que quiser. 


Parte da cantina e meu café da manhã no hospital de Lillehammer (foto: arquivo pessoal)

Depois de algumas horas, recebi a visita da jordmor que estava de plantão naquele dia, que mediu minha pressão e me examinou para ver se tinha algum progresso. As profissionais da ala da maternidade do hospital de Lillehammer foram todas muito atenciosas e pacientes, elas me explicavam tudo e sempre esperavam pelo meu consentimento antes de fazer qualquer coisa.

Pouco tempo depois, ela voltou com a obstetra e me explicou que não havia sinal de que o bebê queria nascer. Além disso, minha pressão não estava tão ruim a ponto de ir para outro estágio da indução do parto, por isso elas achavam melhor eu ir para casa e esperar. Havia uma chance de, ainda no carro, as contrações começarem e eu ter que voltar para o hospital, como também poderia passar dias antes que qualquer coisa acontecesse. Saí de lá com uma consulta marcada para quatro dias depois, se até lá o bebê não tivesse nascido, seria iniciado o processo de inducão do parto pra valer

Confesso que na hora fiquei um pouco decepcionada, pois tinha certeza que só sairia dali com meu bebê em meus braços. Depois me dei conta do significado disso tudo: era isso o que significava um parto humanizado. É deixar as coisas acontecerem naturalmente, no tempo do bebê, com o mínimo de interferência. Penso que, caso estivesse no Brasil, fariam uma cesárea só para acabar logo com isso, ou estou errada? 



Quatro dias depois e… será que é isso que é contração?!


No dia em que completei 41 semanas de gestação, acordei de madrugada sentindo umas dores estranhas, era como se fosse cólica mas ao mesmo tempo era diferente, não sei explicar. Meio dormindo, meio acordada, fiquei virando de um lado para outro tentando pegar no sono, até que lá pelas 5h da manhã me dei conta de que aquilo ali devia ser contração. 

Dizem que a mulher sabe quando é uma contração, mas lá estava eu, sem ter certeza. Mas e a bolsa, não devia ter estourado primeiro?!? Não estava entendendo absolutamente nada. Já tinha dias que eu estava dormindo com um saco de lixo embaixo do lençol e uma toalha na cama (imagina que cena linda essa kkkk), para evitar que o colchão molhasse, mas foi desnecessário – aposto que se não tivesse forrado ia ter molhado tudo!

Tentei contar as contrações, o que foi mais difícil do que pensei, e, pouco depois das 6h, liguei para o hospital e recebi o “ok” deles para ir na mesma hora. Minha consulta para começar a indução ao parto estava marcada para às 10h daquele dia, mas meu bebê não quis esperar até lá… o que achei ótimo, não aguentava mais esperar.

Dessa vez, a viagem passou muito rápido, apesar das contrações, que pareciam durar horrores. Em vez de nervosismo e preocupação, como na última vez, estava muito, muito feliz, provavelmente, hoje ainda veria meu filho!

Agora imagina essa viagem no carro, eu sentada no banco de trás me contorcendo de dor, mas feliz, e com o bendito saco de lixo e a toalha para proteger o banco do carro… hahaha! Confesso que fiquei orgulhosa de mim mesma por ter pensado em proteger o carro em pleno trabalho de parto, fala sério! 🤣



No hospital de Lillehammer, parte 2

Exemplo do exame CTG (foto: naumoid/Getty Images)

Chegamos no hospital lá pelas 8h, deixamos o carro no estacionamento e fomos direto para o Fødeavdeling (ala da maternidade), no 5º andar.  

Tocamos a campainha, a jordmor de plantão nos recebeu, nos levando para a mesma sala da outra vez, para monitorar o bem-estar do bebê e medir as contrações através do exame CTG.

Na mesma hora que me sentei, senti uma ânsia de vômito daquelas e a jordmor disse que era normal. Ela me ofereceu um saquinho para caso eu vomitasse, e foi a conta dela me dar o tal saco plástico que eu comecei a vomitar que era uma beleza. Eu não sabia que ter contrações causava enjoo, mas agora você também já sabe 😅

Ela me examinou e eu já estava com 4 centímetros de dilatação, por isso já podia ir para a sala do parto. Entreguei o meu helsekort for gravide (o documento de saúde da gestante) e ela me perguntou se eu tinha alguma preferência sobre o parto em si. Muitas mulheres escolhem escrever um plano de parto (fødebrev, fødselsplan), mas a jordmor que fez o meu pré-natal disse que não era necessário, pois as jordmødre de plantão sempre conversam com a gestante assim que ela chega no hospital.

Por causa disso eu nem tinha escrito o plano de parto, mas até esse momento as dores eram bem suportáveis e não tive dificuldade em me expressar. Mas também pensei que, caso estivesse morrendo de dor a ponto de não conseguir falar, seria uma boa ideia ter o plano de parto escrito, né? 



Como aliviar a dor do parto?


A dor foi aumentando e eu escolhi ir para a banheira, para ver se ajudava. Na minha cabeça, eu queria ter um parto lindo e maravilhoso na banheira, mas a jordmor só olhou pra mim e disse “então… se você quiser parir na banheira vou ter que chamar outra jordmor, porque faz 2 anos que participei de parto na banheira”.  

Decidi esperar um pouco para ver o quanto aguentava, mas nem precisei esperar muito, porque menos de uma hora depois eu já estava percebendo que essa coisa de parto natural na banheira não ia rolar não. Eu queria a tal da epidural e eu queria era a-g-o-r-a!!! 

Tiraram o meu sangue para ver se estava tudo bem para receber a epidural, agora era só esperar pelo anestesista, que estava em uma cirurgia. Essa espera parecia não acabar nunca, a dor estava insuportável. Ficava mudando de posição o tempo todo, caminhei, sentei nessas bolas de pilates/yoga, sentei na cama, me deitei, fiquei de quatro, enfim, tentei de tudo mesmo

Enquanto isso a jordmor lá, muito atenciosa e batendo o maior papo comigo. No fim, comecei a inalar o gás do riso para ver se ajudava, e como ajudou, viu!

Mas eu pensei: se tá doendo nesse nível agora, e a dilatação tem que chegar a 10 cm para eu poder fazer força para o bebê nascer, só esse gás do riso não vai adiantar não! Ainda bem que eu já tinha pedido a epidural, porque se o intervalo das contrações estiverem muito curtos não dá mais para tomar.

Nessa hora cheguei à conclusão que, por mais que estivesse sofrendo, tinha que dar graças a Deus por estar em trabalho de parto na Noruega, um dos melhores países do mundo para se ter filho, senão o melhor. Foi como se passasse um filme na minha cabeça, em 5 segundos pensei em todas as grávidas de toda a existência, me dando conta que a maioria delas nem teve a oportunidade de parir num hospital e com opções de aliviar a dor. Isso me deu muita força para continuar. 

Lá pelo meio-dia, o anestesista finalmente chegou e injetou a epidural. Eu sei que a epidural tem seus riscos, mas nessa hora eu tomaria qualquer coisa para aliviar a dor. Ela tinha que ser injetada entre uma contração e outra porque, se eu me movesse e ela fosse injetada no lugar errado, poderia comprometer o nervo da coluna, e a consequência seria terrível, né? 

Levei as instruções extremamente a sério e me comportei como uma múmia, sem me mexer, sem falar. O local da picada é anestesiado e não senti nenhuma dor, nem da picada. Não sei se o médico diz isso para todas as grávidas, mas ele comentou que eu fui a grávida mais samarbeidsvillig (que mais colaborou) na hora de injetar a epidural que ele já tinha visto, e a jordmor concordou. Esse comentário me deu ainda mais forças para continuar, porque né, quem não gosta de um elogio em pleno trabalho de parto?

Só depois que eu entendi o que ele quis dizer, porque assim que ele e a jordmor saíram, meu marido vira pra mim e diz “nossa, você viu o tamanho daquela agulha???”, e não, eu não tinha visto! Se eu tivesse visto a agulha antes, possivelmente ia ter dificuldades para ficar tranquila, mas juro que não doeu! A região da picada é anestesiada antes, e ficar sentindo dor da contração era muito pior do que uma picada, sinceramente.

Epidural (foto: Paul Anthony Stewart, Wikimedia Commons)

Assim que tomei a epidural, pude finalmente descansar um pouco. O efeito dela é tão bom que a jordmor nos aconselhou a usar esse tempo de tranquilidade para comer e descansar um pouco, porque depois ia ficar intenso. Meu marido foi na cantina e pegou um almoço pra gente. 

Depois de um tempo, a jordmor que havia me acompanhado desde o início da manhã foi para casa e outra jordmor apareceu, a que realmente faria o parto. As jordmødre do hospital que eu tive o prazer de encontrar foram todas muito atenciosas, pacientes, sempre conversando comigo e com meu marido. Elas não só explicam tudo o que vão fazer e sempre esperam pela sua autorização antes de fazer qualquer coisa, como também batem papo e tentam te conhecer, pelo menos foi o que senti. Me senti vista, ouvida, era eu quem ditava o ritmo do parto, claro que no limite do possível.

Sei que por volta das 16h a jordmor achou que as contrações não estavam se desenvolvendo rápido o suficiente, eu já estava em trabalho de parto há cerca de 12 horas, a bolsa nem tinha estourado ainda e ela estava preocupada com o meu bem-estar. Nesses casos em que o parto se desenvolve mais devagar, há uma chance maior dele acabar em uma cesárea, por isso ela perguntou se podia estourar a bolsa, e eu concordei. Não doeu, na verdade senti um alívio em sentir a água jorrando entre as pernas, sensação muito estranha. Me senti quilos mais leve, literalmente.

O tempo passou e não havia muito progresso, o próximo passo seria me dar ocitocina (intravenosa) para diminuir o tempo entre as contrações, o que também aceitei. Ela também me perguntou se podia colocar um eletrodo na cabeça do meu bebê, para medir o nível de oxigênio e os batimentos cardíacos dele. 

Eu aceitava todas as sugestões que me davam porque a equipe passou muita confiança, a jordmor tinha mais de 30 anos de experiência e parecia extremamente apaixonada pela sua profissão. Em momento algum senti que queriam que tudo terminasse rápido para eu dar lugar a outra grávida, sabe como? Essa foi uma vantagem em dar à luz numas das regiões menos populosas da Noruega, haha! Ninguém estava esperando pela minha sala de parto…

De repente, as contrações começaram a vir rápido demais, o que também não era muito bom, como me explicaram, e ficaram lá por um tempo ajustando o nível de ocitocina que eu estava recebendo. Deste momento em diante, tudo ficou realmente muito intenso e lembro de tudo como um borrão. As contrações estavam tão, mas tão fortes que eu nem conseguia largar o gás do riso, que, apesar do nome, não me fez rir. Ele te seda por um curtíssimo período de tempo, então eu inalava quando sentia que a contração começava, para poder aguentar.  

Me explicaram que, apesar da epidural, eu não ficaria completamente sem dor, pois a injeção anestesia os músculos da barriga e alivia um pouco a dor das contrações. Eu ainda sentiria o bebê passar pelo canal vaginal, o que deu um desespero daqueles, mas já que eu estava na chuva tinha que me molhar, não é mesmo? 



O nascimento


Por volta das 19h30, lembrando que senti as primeiras contrações lá pelas 3h da manhã, finalmente atingi a dilatação necessária (10cm) para começar a empurrar o bebê. E se eu achei que tinha doído demais até então, eu simplesmente não fazia ideia de que era agora que a dor ia começar para valer. E que dor, viu!

É indescritível, eu nunca tinha sentido tanta dor na minha vida. Tentar fazer força enquanto a cabeça de um bebê está passando pela parte mais sensível do seu corpo não é nada fácil mesmo, para pegar leve aqui. Para piorar, estava com uma dor terrível no nervo ciático da perna esquerda, o que não ajudou em absolutamente nada. 

Nessa hora me dei conta que havia muito mais gente na sala de parto, acredito que duas jordmødre e as outras eram enfermeiras. Me pediam para continuar empurrando, ao mesmo tempo em que me falavam o quanto eu estava fazendo um bom trabalho (“du er så flink, dette går så bra!”, “você está indo tão bem, está dando tudo certo”). Elas falavam “só mais um pouquinho, já tá quase!!!” e eu tirava forças não sei de onde e empurrava, aí só faltava só maaais um pouquinho, e mais um pouquinho, e esse pouquinho nunca acabava, parecia o “logo ali” de mineiro, que é tipo uns 20 km e não chega nunca. 

Sei que já estava me irritando com esse “só um pouquinho!” que não acabava nunca, estava exausta, até que me falaram “a cabeça está saindo!!! Seu bebê tem muito cabelo, você quer colocar a mão para sentir?”

Nunca gritei um NÃO tão rápido na minha vida. Daonde que eu ia ter coragem de colocar a mão numa cabeça saindo de dentro de mim!?! Tá doido, eu ia era desmaiar de vez. Enquanto isso meu marido ia andando pela sala de parto e a cara de desespero e choque dele é algo que eu nunca vou esquecer na minha vida, o que só me deixou mais nervosa ainda  kkkkkk rindo para não chorar

Nisso eu continuava empurrando e nem podia mais usar o gás do riso, por estar segurando na cama para fazer força, foi aí que eu comecei a falar tudo o que passava pela minha cabeça, sem filtro nenhum, de tanta dor que estava sentindo. “Meu Deus, o que que eu fui fazer”, “Senhor, da próxima eu quero uma cesárea”, “Jesus Cristo, não sei nem se terá uma próxima!!”, e assim continuei, até que empurrei pela última vez e o bebê finalmente saiu.



Depois do parto


Mais indescritível que a dor, foi o sentimento de receber meu filho em meus braços. Colocaram ele sobre o meu peito assim que nasceu. A dor passou na mesma hora, é inacreditável. Chorei de emoção e o amor que senti foi instantâneo, foi incrível. Eu chorava de alívio, emoção, simplesmente não conseguia acreditar no que estava acontecendo. Perguntaram ao meu marido se ele queria cortar o cordão umbilical, o que ele aceitou. Não tem muita coisa que o pai pode fazer no parto, né, mas só de estar ali e segurar nossa mão já ajuda demais. 

Do nada veio uma sensação de frio, mas um frio tão grande que eu tremia que nem vara verde. Tremia de chacoalhar mesmo, pedindo peloamordedeus para me darem um cobertor. Era a adrenalina pós-parto. Frio de -30°C não foi nada comparado com esse frio pós-parto, gente, que que foi aquilo…

Estava lá plena, com cobertor e meu bebê em cima de mim, completamente apaixonada por ele, quando disseram “agora você tem que expulsar a placenta”. É aquele negócio, né, você acha que acabou mas não acabou não. Se bem que expulsar a placenta não foi nada demais, nem doeu se comparamos que minutos antes tinha saído um bebê pelo mesmo lugar, né? Fala sério.

Pedi para ver a placenta e senti uma mistura de nojo com uma gratidão profunda por aquele pedaço de mim ter mantido meu bebê saudável por tanto tempo. Foi doloroso vê-la ser jogada fora, mas ela fez seu papel e agora bola pra frente. 



Uma hora sozinha com meu bebê


O hospital de Lillehammer é considerado um mor-barn-vennlig sykehus (hospital amigo da criança). Isso quer dizer que eles prezam pelo contato entre os dois assim que o bebê nasce, ou seja, em vez de levar o bebê para limpá-lo, pesá-lo, etc, o enxugam e o colocam sobre a mãe, que fica com ele sobre o peito por no mínimo uma hora, para estimular a amamentação e o contato entre os dois. 

Durante toda a estadia na maternidade, o bebê fica com a mãe no quarto, e não no berçário. Minha sogra me contou que, quando o meu marido nasceu, os bebês ficavam no berçário e as barnepleiere (plural de barnepleier, técnica em enfermagem especializada nos cuidados do bebê) levavam o recém-nascido até a mãe quando ele tinha fome, e faziam todo o resto, como trocar fralda, colocar para dormir, etc. Essa estadia era chamada de husmorferie, “férias da dona de casa”. 

Hoje em dia é a própria mãe que cuida do bebê na maternidade, mas as barnepleiere estão sempre disponíveis para ajudar caso haja dúvidas. 

Depois desse tempo em família, a barnepleier chegou, que nesse dia era uma mulher extremamente simpática, nunca vou esquecer da alegria no rosto dela. Ela pegou o meu bebê e o limpou, o pesou, colocou uma roupinha do hospital nele e disse que, se eu quisesse, poderia ir tomar um banho enquanto ela arrumava as coisas para nos mudar de quarto. O que eu prontamente aceitei, vai saber quando eu teria a oportunidade de novo.

Logo depois fomos para o andar de cima, onde os quartos da ala do pós-parto (barselavdeling) se localizam, e onde uma estadia de três dias nos esperava.



Considerações finais


E essa foi minha experiência de parto normal na Noruega. 

Foi muito, muito melhor do que eu jamais imaginei. Doeu? Demais. Valeu a pena? Com certeza. É aquele negócio, né… a gente sente dor por tanta coisa na vida, mas no fim a gente não ganha nada. A dor do parto é só o caminho para algo muito especial, então vale a pena. Sem falar que a dor passa no exato momento em que o bebê nasce, é incrível. Toda vez que olho para o meu bebê me pego pensando que eu faria tudo de novo, sem pensar duas vezes! Ainda não sei se quero ter outro filho, mas caso eu engravidasse novamente, não teria medo nenhum da hora do parto.


Agradeço por você ter chegado até aqui e espero que o meu relato de parto te ajude no seu processo. 


Gostaria de agradecer a Milla, do canal That Milla’s Life, e a Nicole, do canal Nicole Trindade, por compartilharem suas experiências de parto no YouTube, o que me ajudou infinitamente nos momentos de maior desespero pré-parto. 

A Milla compartilhou em dois vídeos muito interessantes todo o processo de indução do parto, que acabou em cesárea, na cidade de Tromsø, no norte da Noruega. 

Já a Nicole gravou todo o seu parto natural no hospital de Lillehammer, num vídeo muito emocionante de quase 1h de duração.

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3 comentários

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